Essa sou eu... Com 6 anos... A idade atual da minha filha caçula. Lembro do dia em que essa foto foi tirada. Diferente de muitas pessoas, que esquecem grande parte da infância, eu lembro de quase tudo, lembro de detalhes diários do cotidiano da mesma forma que recordo dos grandes eventos. Tudo está muito vivo. E olho para essa Adrianinha... Ela retribui o olhar... Eu a abraço... acolho as suas lágrimas... e sussurro poesia no seu ouvido... Aprendi... a pentear seus cabelos de nuvem, desatando os nós por sua mania de correr no vento... a entender suas pálpebras (conchas onde o mar fez casa) e seus soluços de vaga-lume... Compreendi sua mania de se distrair com borboletas... se encantar com joaninhas... e seu amor absoluto pelas cores. Perdi o medo de escutar o eco abissal de vazios que jamais serão preenchidos e beijei seus joelhos ralados de tanto cair... soprando estrelas em feridas que nunca cicatrizarão. Guardei na caixinha mais preciosa a sua gargalhada rouca e o seu sentir sentindo o ser humano... Um dia, ela pegou a minha mão e disse: “OBRIGADA POR NÃO TER ESQUECIDO DE OLHAR A VIDA COM ESSES OLHOS EM QUE NÓS DUAS NOS DESCOBRIMOS... AGORA É A HORA DE CRIAR CRIANDO-SE A CRIA EM SI”.
Adriana Schlabendorff
(trecho do meu Livro “Mulheres que Voam” - em fase de publicação).
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